Flora de STP

Alguns géneros monoespecíficos do endemismo da flora de São Tomé e Príncipe

A biodiversidade vegetal de São Tomé e Príncipe é rica de espécies endémicas fruto da sua pequenez física, do seu isolamento do continente africano e da existência de diversificados habitats dos ambientes naturais e semi-naturais. Esta diversidade vegetal se concentra principalmente em grandes grupos de plantas endémicas dentro das seguintes famílias: Rubiacae, Orchidaceae, Euphorbiaceae e Melastomataceae; os Pteridófitos (fetos) e os Briófitos distribuem-se nos lugares e meios sombreados das grande árvores, desde o nível do mar até os pontos mais altos que culminam com os 2024 m (Pico de São Tomé).

Em relação às plantas endémicas de São Tomé e Príncipe (14% é a taxa de endemismo) destacam-se na paisagem florística espécies de dimensões muito pequenas (nanismo) que contrastam com as Begónias e fetos arborescentes (gigantismo).

Espécies endémicas são aquelas distribuídas espontânea e unicamente numa região geográfica bem determinada. Para as regiões do Golfo da Guiné, muitas delas estão circunscritas numa só ilha. Geralmente, esta área geográfica do continente africano é classificada como um hotspot da diversidade mundial e em particular na sub-região de África central, com cerca de 1700 espécies indígenas ou nativas de plantas com flor (Angiospérmicas) das quais cerca de 176 são endémicas (fonte ECOFAC).

Assim certos géneros tais como Afrocarpus, Craterispermum, Lobelia, Heteradelphia, Brachystephanus, Polyscias, entre outros, são monoespecíficos, endémicos e com seguintes espécies respetivamente: a  Afrocarpus mannii uma espécie afromontanhosa e única espécie do grupo das Angiospérmicas da flora santomense; Craterispermum montanum é espécie medicinal vulnerável; a lobélia gigante, Lobelia barnsii, vive nas crestas rochosas de altitude superior aos 1500 m; o género Heteradelphia com uma só espécie denominada Heteradelphia paulowilhelmia pertencente à família das Acanthaceae e frequente nas florestas de altitude de São Tomé e que não se encontra na Ilha do Príncipe.

O género Brachystephanus, com a espécie B. occidentalis Lindau, povoa as florestas de altitude e secundária, onde a humidade do meio se faz sentir.

O género Polyscias com a espécie Polycias quintasii Exell, araliácea de grande porte, tem propriedades medicinais nas suas folhas, utilizadas frequentemente em massagens.

Em contrapartida, as Fabaceae que estão largamente representadas por várias espécies, não apresentam em São Tomé qualquer espécie endémica.

Plantas úteis de São Tomé e Príncipe

Relativamente às plantas úteis podemos classificá-las em: medicinais, alimentares/aromáticas, ornamentais. O Homem teve um papel muito importante na sua introdução nas ilhas.

Espécies medicinais são ricas em princípios biologicamente activos presentes nas partes aéreas (cascas, folhas, flores, frutos sementes) ou nas partes subterrâneas (raízes e rizomas) que que são largamente utilizadas pelas propriedades associadas, na prevenção de várias doenças e enfermidades (ex.: paludismo, as diarreias/disenterias, as doenças de pele, as feridas, a icterícia/hepatite, a asma, as gripes e as diabetes). A casca da Quina (Cinchona spp ), da Goiabeira Psidium gujava, as folhas da salaconta (Canna indica), etc, são alguns exemplos.

As plantas alimentares, são as que possuem órgãos utilizados na alimentação, pois são ricas em amido: as fruteiras (Artocarpus spp., Dioscorea spp.), ou os inhames.

As plantas ornamentais são aquelas que desde os tempos remotos são utlizadas para embelezar os espaços habitados pelo homem (casas, bairros, vilas e cidades), fruto da beleza e da estética que as mesmas proporcionam na qualidade de vida. Embora muitas delas não façam parte da flora nativa das ilhas, muitas se naturalizaram. Algumas ornamentais tais como, as begónias as zingiberáceas, os antúrios  que pelo efeito que proporcionam pelas nervuras coloridas das folhas (as alocácias, os caládios); pela consistência, dimensões e forma espetacular das folhas (Begónias/Begonia baccata Hook.f., pau esteira/Pandanus thomensis, fetos arborescentes/Cyathea sp, etc.); pela forma e dimensões dos frutos (cabaça/Crescentia cujete); pela utilidade na construção de sebes vivas e demarcação de parcelas de terrenos (Pau sabão/Dracaena arborea,  as euphorbias/Euphorbia drupifera e a Roseira da China/Hibiscus rosa-sinensis). Pelas flores especulares, temos a salientar, a rosa de porcelana (Etlingera elatior).

Muitas delas, pela sua distribuição e a elevada capacidade multiplicativa, poderiam entrar na renda das famílias através da cultivação dessas ornamentais para o corte de flores e folhas e a comercialização nos mercados nacional e externo.

As plantas alimentares jogam um papel importante na dieta alimentar das populações pois são ricas em fibras, vitaminas, minerais e outros nutrientes e tomam parte na cozinha local. As hortícolas, as aromáticas as frutícolas, os tubérculos, cereais são os mais representativos na confeção de pratos tradicionais, tais como: o Calulu e Molho no fogo.

Entre as plantas utilitárias, destaca-se a palmeira, Elaeis guineensis pelas múltiplas funções que tem no quotidiano das pessoas do arquipélago.

Das sementes frescas extrai-se o óleo (azeite) de palma; do coconote que é extraído óleo com largas aplicações na indústria; do material combustível denominado de “canví”, utilizado para acender a lenha; de material de construção de habitações nas zonas rurais, de vários objetos de artesanato utilizando as folhas; do símbolo de Páscoa para os católicos.

Um campo muito explorado nas unidades de transformação é o das plantas aromáticas, tais como: a canela (Cinnamomum verum), a baunilha, (Vanilla sp), o açafrão (Curcuma domestica), a pimenta (Piper guineensis), o ossame (Aframomum danielli), o Chalela ou Chá do Príncipe (Cymbopogon citratus), pelo aroma.

A pimenta e o ossame são muito frequentes em São Tomé e no Príncipe, apesar da grande procura no mercado local a que são sujeitas.

Quanto aos recursos da flora com aplicação industrial São Tomé e Príncipe, possui relativamente grandes potencialidades no que concerne aos produtos tais como: o látex, a tinta, o óleo, exsudados das cascas que poderiam ser extraídos, nomeadamente: a tinta extraída da Pau sangue (Harungana madagascariensis), Indigofera tinctoria; o caoutchouc, extraído da Landolphia landolphioides Stapf, do Pau cadeira (Funtumia africana), a Borracheira (Hevea brasiliensis); o óleo extraido de Pau Óleo (Santiria trimera), do Pau amarelo (Symphonia globulifera L. f) e muitas outras.

Problemática das infestantes em São Tomé e Príncipe

A progressão de espécies exóticas invasoras é uma situação ainda pouco discutida no País, mas constitui uma grave ameaça à integridade da flora e da vegetação nativa das ilhas, pois algumas já se encontram dentro, ou muito próximas, das áreas de proteção integral do Parque Obô. São elas: Petiveria alliacea L., Cinchona spp., espécies subespontâneas plantadas no séc. XIX, para a luta contra o paludismo; o abacateiro (Persea americana), o falso girassol (Tithonia diversifolia), o coedano (Cestrum laevigatum), Eleios (Cuscuta campestris), Coração magoado (Iresine herbstii).